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Minna

  • Amanda
  • Dec 22, 2016
  • 3 min read


Da forma como eu vejo as coisas o mundo tem dois tipos de pessoas: as que esperam sentadas até o ônibus chegar no seu ponto; e as que esperam de pé do lado da porta. No meu caso? Eu ainda nem peguei o ônibus.

A verdade, é que eu estava calculando qual o melhor ônibus. Qual chegaria mais rápido e passaria mais perto de onde eu queria chegar ou se teria que ficar de pé, me equilibrando pra não cair em cima da velhinha sentada na minha frente. Mas, no caso, a velhinha sentada na minha frente não parava de me fazer perguntas indiscretas. “Quando vai sair de casa ? Que curso vai fazer? Faz medicina. E o namorado? Vai casar? Só não vai engravidar agora hein? “ Com licença mulher, eu não te dei esta liberdade.

Eu me levantei na primeira oportunidade e me juntei ao meu irmão mais velho na mesa de doces.

-Ih...olha lá, aquele ali não é seu amigo?- Ele apontava o copo de Coca para uma mesa cheia de crianças e pré-adolescentes. Só tinha um rapaz mais velho, que já estava sem a gravata e fazia malabarismos com umas coxinhas. Eu apenas revirei os olhos.

-Danilo?- peguei um bombom da mesa e o enfiei na boca.- Sério que eu nunca vou ter paz desse povo?

Miguel pegou cinco bombons vermelhos e mordeu metade de um.

-Você é tão estranha. Estudou com o garoto durante três anos e nunca falou com ele.- Ele cuspiu o bombom em uma forminha e o recolocou na mesa. - Odeio nozes- e afundou a outra metade do bombom na forminha onde tinha acabado de cuspir.

Eu olhei para a mesa da nossa família. Se minha mãe visse aquilo, eu é que não ia querer ficar por perto e fazer parte do barraco.

- Não sou obrigada, Miguel. E o estranho é ele.

Meu irmão deu de ombros e acenou para o Danilo. Miguel adorava se fazer de sociável. Tudo bem, ele realmente era um cara legal. Muito diferente de mim e do Rafa, nosso irmão mais novo, Miguel era o tipo de pessoa que todos gostavam. Vivia cada dia em um grupo diferente e era sempre a referência de cara inteligente e engraçado para, basicamente, todo mundo naquela cidade. Era apenas um ano mais velho que eu e tinha acabado de entrar na melhor faculdade do país, ia estudar engenharia química lá.

Danilo acenou de volta e fez um sinal pra indicar que estava se levantando para conversar com a gente. Miguel me olhou como quem diz “Eu não tenho culpa de ser tão legal e todos quererem conversar comigo” e enfiou dois bombons de uma vez na boca.

-E aí, Miguel- Danilo disse e o cumprimentou daquele jeito bobo que os garotos fazem, eles devem achar que isso os faz parecerem despojados. Sabe? Apertando a mão e dando um tapinho no ombro.

-Mi.- Ele sorriu para mim e se manteve afastado. Danilo e eu não nos odiavamos nem nada, só não éramos próximos. Eu andava com os supostos rockeiros da escola e ele com os caras inteligentes das exatas. A gente se cumprimentava como mandam os “bons costumes” e pronto. Na verdade, eu sempre o achei meio estranho. Apesar de participar de todas as bobeiras que os amigos dele promoviam, me parecia que o garoto estava sempre perdido num mundo só dele. Sempre o achei meio fora da casinha. Meio avuado.

Alguma coisa vibrou no meu bolso. Mensagem nova. Meus irmãos gostavam muito de ler minhas mensagens por cima dos meus ombros, então eu escondi o celular e me afastei um pouco dos garotos. Vitória. Acho que hoje não né? Desliguei o celular e voltei pra mesa de doces. Só restava o Danilo lá, meu irmão deve ter ido socializar com mais algumas pessoas.

- Encontrei a Nina um dia desses- Danilo olhava para a mesa, tentando escolher algum docinho, penso eu.- Ela tá indo pra Campinas, ne?

Eu levantei uma sobrancelha enquanto soltava um “Uhun” desinteressado.

-Você passou em alguma coisa?- Perguntei,

-Não...decidi ficar por aqui esse ano. Sabe como é, as coisas estão meio difíceis lá em casa.

Eu imaginava. Já devia fazer quase um ano desde aquele dia em que entrei na escola e ouvi os professores cochichando coisas do tipo “ Pobrezinho, ela era tão nova”. Mas ele não apareceu na escola naquele dia. E nem no seguinte. Me lembro dos amigos dele dizendo para os professores que ele estava bem. Ele desapareceu durante dois meses. Voltou sem explicações. Pelo menos uns cinco quilos mais magro. Foi quando ele começou a jogar basquete com os meus irmãos.

-Eu também não passei- Eu disse.

Ele me olhou balançando a cabeça. Eu não tinha mais o que dizer. E nem ele, pelo visto. Então decidi me juntar a ele na árdua tarefa de escolher bombons. Em silêncio.


HISTÓRIA 1


 
 
 

TOP 3 QUALQUER COISA

#1 

How I met your mother SIM, porque faz a gente pensar na vida.

 

#2

Alessia Cara. Porque Seventeen me fez começar este blog.

 

#3

Natal. Porque é a melhor época do ano.

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