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Danilo

  • Amanda
  • Dec 28, 2016
  • 2 min read

- Pode deixar que vamos entrar em contato em breve … não… claro… ele é muito esforçado, vai se sair muito bem. Muito obrigado pela notícia, diretora. - Meu pai desligou o telefone bem na hora em que eu entrava pela porta da cozinha carregando as compras do mercado. Luci vinha logo atrás com um vasinho de flor.

-Olha papai, essa florzinha combina com o nosso jardim. - Ela levantou o vaso para o pai admirar a flor de mais de perto.

-Mas que linda, meu amor. Vamos ajudar seu irmão a guardar as compras e aí a gente pode plantar ela, tudo bem?

Luci concordou com a cabeça e saiu toda saltitante para o jardim. A cozinha ficou em silêncio. Eu sabia que ele tinha algo para me dizer. Mas preferi gastar o resto do meu tempo guardando as compras e fingindo pura demência e quando estava prestes a subir pro meu quarto ele finalmente falou.

-A diretora da sua escola ligou. Você tem direito a uma bolsa de cem por cento no cursinho de lá.

-Legal.

- Eu posso passar lá hoje ainda, se você quiser, e já faço sua inscrição.

- Acho que não. Valeu.

- Mas é um dos melhores da cidade e eles ofereceram até … até acompanhamento psicológico.

- Agora ficou irresistível.

- Olha, você é tão espertão. - Meu pai apoiou a mão direita no balcão da pia. Ele não falava como se estivesse zangado, apenas parecia cansado. – Quer saber Danilo, faça o que você quiser. Se precisar de alguma coisa eu vou continuar por aqui.

Eu não respondi e subi as escadas de dois em dois.

Meus olhos estavam molhados outra vez. Droga. Eu enterrei minhas mãos no travesseiro enquanto esperava que a dor passasse. Tem sido difícil. Acordar todos os dias e tomar café da manhã naquela mesa. Assistir TV no sofá que ela escolhera. Ajudar o pesadelo da Luci a passar de madrugada, só para descobrir que o pesadelo é real. Tudo o que me faz lembrar dela me sufoca e me causa uma dor infinita no estômago. Ninguém deveria ter que passar por isso, não tão cedo, não tão jovem. Não quando eu precisava tanto dela para me ajudar sobre que caminho escolher. Eu tinha dezessete quando aconteceu, minha irmã, apenas cinco. Foi aí que eu parei de acreditar em Deus. Porque eu não acho que se Deus realmente fosse incrivelmente bom, como dizem, teria levado aquela mulher incrível embora. Não. Deus é só uma mentira contada aos desesperados.

Meu celular começou a vibrar em cima da escrivaninha. “A gente tá na praça.” Eu coloquei os tênis e saí correndo pelas escadas.

“TÔ SAINDO” eu gritei, para ninguém em especial. Abri a porta da frente da casa e senti aquele ar grudento e pesado do verão invadir o cômodo. Não era só o ar que grudava. Eram os medos, os receios, as lembranças, era tudo. Passando pela minha pele e se alojando na boca do meu estômago, repuxando tudo, sempre que possível, me fazendo lembrar que tinha mais vindo pela frente.


HISTÓRIA 2 - A FANTÁSTICA JORNADA DE MINNA E DANILO

 
 
 

TOP 3 QUALQUER COISA

#1 

How I met your mother SIM, porque faz a gente pensar na vida.

 

#2

Alessia Cara. Porque Seventeen me fez começar este blog.

 

#3

Natal. Porque é a melhor época do ano.

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