Danilo e a pinga azul

O garçom colocou sete copinhos com um líquido azul na mesa. Rodrigo já parecia mais alegre que o normal, ele estava tendo problemas em manter o líquido dentro do seu copo enquanto tentava contar sua última história ao mesmo tempo em que gesticulava, em todas as direções, a mão que segurava o copo. A música estava alta o suficiente para me obrigar a gritar com a pessoa sentada a minha frente para que ela conseguisse me ouvir. Milhares de vozes, e histórias, e risadas se misturavam naquela sala. Que, aliás, me surpreendeu com o monte de cadeiras e mesas que conseguiu abrigar. Até o tempo parecia meio lento. Ou talvez tenha sido a pinga azul que eu tinha acabado de jogar pra dentro.

Gabriel se levantou de um pulo, juro, e eu só entendi o que ele tinha feito quando vi Minna e Diego e mais umas garotas do grupinho deles se juntarem à mesa. Minna sorriu. Pra mim eu acho. Espero que eu tenha sorrido de volta. Então ela se virou de lado e começou a conversar com as duas meninas. Eu olhei pros lados. Todos ao meu redor estavam ocupados. Não sei bem por quanto tempo, mas fixei meu olhar na mesa a frente. Um casal silencioso. Pareciam tensos e melancólicos. Engraçada como a vida é. Une duas pessoas em fogo durante um tempo e depois as faz se odiarem. Eu nunca tive uma namorada, por isso sempre me perguntei se as pessoas, dentro do casal, sabem dizer em que ponto acaba a paixão e começa o rancor. Uma gargalhada alta me chamou a atenção e eu me voltei para a mesa ao lado deles, mais interessante. Três amigos discutindo sobre as novas prisões de políticos que tinham acontecido mais cedo no país. Soltei uma risada ( que eu jurava que tinha sido só na minha cabeça) e falei (sem querer e alto demais) “Que assunto engraçado para um bar”, e me deparei com o olhar de Minna sobre mim. Piedade? Ou curiosidade?

-Tudo bem aí Danilo? - Ela me perguntou ainda com aquele olhar .

Fiz um sinal de jóia e depois fiquei me perguntando por quê? Ela e as amigas riram.

-Parece que alguém aqui tá deixando seu antigo eu reaparecer. - Foi Rodrigo quem disse isso, me dando um tapa no ombro.

Eu não conseguia ver meu rosto, mas tinha certeza de que eu estava com uma enorme cara de demente. Por mim tudo bem. Fazia tempo que eu não me sentia bem agindo feito bobo. Há quanto tempo eu não ria de uma piada ruim ? O tempo estava meio lerdo, e o ar parecia leve.

Minna começou a falar de um projeto envolvendo crianças e trabalho voluntário no qual ela pretendia se inscrever e todos pararam para escutá-la. Eu também parei. E lhe dei várias ideias e nomes e datas, que eu não sei exatamente de onde foi que eu tirei, mas eu a surpreendi. Fiquei pensando nisso por um tempo. Todas as minhas ações geravam extrema surpresa nela. Por que? E ela ria, mas estava distante. Será mesmo que aquela garota com ar de pirada estava traíndo o namorado ? Onde ele tava aliás? NÃAH…

Talvez eu devesse perguntar para ela algum dia.

Talvez agora.

Para com isso Danilo, fica quieto.

E sem mais álcool por hoje. Você já viajou demais.

*Esse texto faz parte da História 2, você pode char as outras partes dessa história ali no "Tags" do lado, com o nome de "História 2" ou "A fantástica jornada de MInna e Danilo"

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