Alguns esclarecimentos sobre porque sou feminista
Eu não fui sempre feminista. Lá pelos meus dezoito anos eu fazia piadas sobre o tema, repetia que era coisa de mulher desocupada, que o que elas falavam não condizia com a realidade. E esta foi exatamente a época em que eu comecei a prestar mais atenção nesse movimento. Não me lembro do acontecimento exato que me levou a me declarar uma feminista, mas todos os dias, sem nem mesmo precisar sair de casa, a sociedade me lembra de todos os outros motivos que me fizeram optar por essa luta. E é isso que eu vim compartilhar com vocês.
Eu ainda não estou no mercado de trabalho, então não posso falar sobre esse ponto de vista, por isso vou contar algumas indignações do meu dia a dia de estudante universitária.
1) Eu tenho um medo absurdo de andar sozinha no meu bairro, independente do horário. Porque um tempo atrás, voltando para casa as três da tarde, eu percebi que um maluco me perseguia enquanto dirigia um carro e se masturbava. As vezes eu tenho que pedir para algum amigo me acompanhar quando vou sair, ou faço um caminho diferente. Só porque sou mulher eu tenho que sentir medo de andar sozinha por aí?
2) Domingo a noite quando estava saindo do carro para pegar minhas malas e entrar em casa um carro cheio de homens parou do outro lado da rua e começou a mecher com a gente (éramos quatro meninas no carro). Que direito eles tem de nos desrespeitarem dessa forma?
3) As mulheres do meu treino de muay thai fazem corpo mole na aula e reafirmam o pretexto de que elas não tem força suficiente para lutar como os homens. Por quê lutar como um homem? Por quê não lutar como uma mulher?
4) Quando um homem me diz que se sente ofendido com a frase "Todo homem é um estuprador em potencial". Há um estudo do Ipea, feito em 2013 que " em geral, 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima, o que indica que o principal inimigo está dentro de casa e que a violência nasce dentro dos lares". Se você é um homem e costuma dizer isso, amigo, você não entendeu nada sobre o que nós mulheres vivemos.
5) Eu sei que não serei levada a sério se eu me arrumar e for vaidosa. Qual a relação entre se maquiar pra sair e saber sobre política, ciência, literatura ? Nenhuma.
6) Por quê o mundo feminino está dividido entre "puritanas" e "vadias" ? E o que faz você pensar que eu vou deixar de ser um ou outro só porque tem homem que acha que existe mulher pra casar e mulher pra pegar?
7) Por quê a profissão das minhas barbies era sempre professora de criança ou veterinária ( duas profissões incríveis, aliás), mas nunca cientista, ou médica, ou advogada?
8) Quando eu olho ao meu redor, eu não vejo tantas mulheres em cargos de liderança, quanto vejo homens. Eu não me sinto representada pelos textos que eu leio na faculdade. Porque até hoje, depois de dois anos de curso, eu devo ter lido no máximo 6 autoras e assistido apenas 4 professoras me darem aula.
9) Eu escuto constantemente coisas como "Para de ser mulherzinha", "Para de mimimi", "Tá de TPM?", mas em sentidos totalmente pejorativos. E para aqueles que não sabem, sim, eu sou uma mulherzinha e não vejo como o diminutivo do nome dado ao meu gênero pode ser uma ofença.
10) O mundo ainda está divido entre "coisas de mulher" e "coisas de homem". E eu me sinto sendo diminuída pelas pessoas ao meu redor quando digo que gosto de ver vídeos de maquiagem ou de moda no youtube, ou que escuto Taylor Swift, por exemplo. Por quê ninguém diminui os homens por gostarem de futebol e assistirem vídeos sobre video game?
Tem muitos outros motivos, mas não se preocupe porque ainda vai ter muito tempo para escrever sobre todos eles aqui.